Uma ameaça invisível
A diabetes tipo 2 é uma doença silenciosa que danifica os vasos sanguíneos e órgãos sem que nos apercebamos. Pode afetar a visão, os rins, os nervos e aumentar o risco de enfarte e acidente vascular cerebral. Por isso, é fundamental cuidar da alimentação, manter um peso saudável, praticar exercício e consultar o médico regularmente.
Como afeta o corpo
- Olhos: pode causar retinopatia, aumentando o risco de cegueira.
- Rins: a nefropatia pode levar a insuficiência renal.
- Nervos: a polineuropatia provoca dor, formigueiro e perda de sensibilidade.
- Coração e cérebro: a diabetes aumenta o risco de enfarte e acidente vascular cerebral.
- Extremidades: a doença arterial periférica pode causar úlceras e, em casos graves, amputações.
Vigiar os pés e a visão regularmente é essencial para prevenir complicações.
Complicações agudas: atenção imediata
Embora a diabetes seja frequentemente silenciosa, também pode provocar situações de urgência médica que exigem atenção imediata. É importante que os pacientes reconheçam os sinais e saibam quando procurar ajuda.
- Hipoglicemia (baixos níveis de açúcar no sangue)
- Ocorre quando a glicose no sangue cai demasiado, por exemplo após tomar medicação ou insulina sem comer o suficiente.
- Sinais de alerta: tremores, sudorese, tonturas, palpitações, fome intensa, confusão ou dificuldade em falar.
- Risco: se não for tratada rapidamente, pode levar à perda de consciência ou convulsões.
- Ação imediata: consumir um alimento ou bebida com açúcar de absorção rápida (como sumo de fruta ou glucose), e procurar avaliação médica se os sintomas não melhorarem.
- Cetoacidose diabética (mais comum na diabetes tipo 1)
- Ocorre quando o corpo não consegue usar a glicose como energia e começa a queimar gordura, produzindo cetonas.
- Sinais de alerta: sede intensa, urinar com frequência, náuseas, vómitos, dor abdominal, respiração rápida, hálito com cheiro frutado, confusão.
- Risco: é uma emergência que pode levar ao coma ou morte se não for tratada.
- Ação imediata: ir imediatamente ao serviço de urgência; requer hidratação e insulina intravenosa.
- Estado hiperglicémico hiperosmolar (mais comum na diabetes tipo 2)
- Ocorre quando a glicose no sangue sobe muito sem cetoacidose.
- Sinais de alerta: sede extrema, boca seca, confusão, fraqueza, visão turva, urinar muito pouco ou de forma concentrada.
- Risco: pode evoluir rapidamente para desidratação grave, coma e morte se não for tratado rapidamente.
- Ação imediata: urgência médica imediata, geralmente com fluidos intravenosos e controlo rigoroso da glicose.
Mensagem importante: Reconhecer estes sinais precocemente salva vidas. Nunca ignore sintomas graves de hipoglicemia ou hiperglicemia; procurar ajuda imediata é fundamental.
Obesidade e exercício: peças-chave do controlo
A obesidade é um dos principais fatores de risco para a diabetes tipo 2. O excesso de gordura, especialmente abdominal, aumenta a resistência à insulina, eleva a glicose no sangue e potencia o risco cardiovascular.
O exercício regular ajuda a:
- Melhorar a sensibilidade à insulina.
- Controlar o peso e reduzir a gordura abdominal.
- Fortalecer músculos e ossos.
- Proteger o coração e vasos sanguíneos.
Recomenda-se pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada, combinando exercícios de cardio (caminhar, nadar, andar de bicicleta) e de força (pesos, exercícios com o peso do corpo). Até pequenas caminhadas após as refeições ajudam a reduzir os picos de glicose.
Hábitos de vida: a melhor prevenção
Dieta equilibrada: essencial para controlar a diabetes
Não se trata de proibições absolutas, mas de aprender a comer de forma saudável e consistente:
- Legumes e hortícolas: consumir em todas as refeições; fornecem fibra, vitaminas e minerais que ajudam a controlar a glicose.
- Fruta inteira com moderação: preferir fruta inteira em vez de sumos; a fibra retarda a absorção do açúcar.
- Proteínas magras: carnes brancas, peixe, ovos, leguminosas; ajudam a manter a massa muscular e a sensação de saciedade.
- Gorduras saudáveis: azeite, frutos secos, abacate; reduzem o risco cardiovascular.
- Evitar açúcares adicionados, arroz e massa em excesso e ultraprocessados: refrigerantes, bolos industriais, snacks doces ou salgados.
- Controle das porções: mesmo alimentos saudáveis podem elevar a glicose se consumidos em excesso.
- Hidratação: água como bebida principal; evitar bebidas açucaradas.
Dica prática: preencher metade do prato com legumes, um quarto com proteínas magras e, se desejar, uma pequena porção de fruta.
Controlo médico e valores-chave
| Parâmetro | Valor recomendado | O que indica |
| Glicemia em jejum | <130 mg/dL | Controlo basal de açúcar |
| HbA1c | <7 % | Média da glicose nos últimos 2–3 meses |
| Colesterol LDL | <100 mg/dL | Risco cardiovascular |
| Triglicerídeos | <150 mg/dL | Risco cardiovascular |
Medicamentos: aliados, não substitutos
Existem vários tipos de medicamentos para a diabetes, cada um com a sua função e efeitos. Nenhum substitui a dieta, o exercício e o acompanhamento médico, mas podem ajudar a controlar a glicose e prevenir complicações.
1. Metformina
- Fármaco de primeira linha na diabetes tipo 2.
- Reduz a glicose no sangue e melhora a sensibilidade à insulina.
- Geralmente bem tolerada, embora possa causar desconforto digestivo no início.
2. Sulfonilureias (glibenclamida, glimepirida)
- Estimulam o pâncreas a produzir mais insulina.
- Podem causar hipoglicemia se usadas sem controlo.
3. Insulina
- Necessária na diabetes tipo 1 e em alguns casos avançados de tipo 2.
- Tipos: rápida, intermédia e prolongada.
- Muitas pessoas têm receio de a usar, mas é segura e salva vidas se aplicada corretamente.
4. Inibidores SGLT2 (empagliflozina, dapagliflozina)
- Ajudam a eliminar glicose pela urina.
- Também protegem o coração e os rins.
- Podem causar infeções urinárias em alguns pacientes.
5. Agonistas GLP-1 (liraglutida, semaglutida)
- Aumentam a produção de insulina e reduzem o apetite.
- Usados também para perder peso em pacientes com obesidade.
- Risco raro de pancreatite; podem causar náuseas no início.
6. Inibidores DPP-4 (sitagliptina, vildagliptina)
- Aumentam a insulina de forma natural após as refeições e reduzem o glucagon.
- Geralmente bem tolerados, com baixo risco de hipoglicemia.
- Os medicamentos ajudam, mas não substituem hábitos saudáveis.
- Cada paciente precisa de um plano individualizado segundo os seus níveis de glicose, peso, coração e rins.
- O acompanhamento médico é essencial para ajustar doses e prevenir efeitos adversos.
Mensagem de esperança
Embora a diabetes seja uma doença séria, não significa que a vida esteja limitada. Com hábitos saudáveis, acompanhamento médico regular e adesão ao tratamento, muitas pessoas com diabetes vivem plenamente e previnem complicações graves.
Mudanças pequenas, mas constantes —como caminhar após as refeições, manter uma alimentação equilibrada e rever regularmente os pés e a visão— podem fazer uma grande diferença na saúde e na qualidade de vida.
Lembre-se: a diabetes pode ser controlada, não define quem és. Cada passo em direção a hábitos mais saudáveis é um passo para uma vida mais longa, ativa e plena.
Artigo escrito por Marta Rodríguez Madarnas, Assistente graduada de Medicina Interna na ULS Trás-os-Montes e Alto Douro














