O Evangelho do passado Domingo, lido e comentado nas Celebrações Eucarísticas, referia-se às posturas, de um fariseu e de um publicano, que, no Templo, perante Deus, individualmente, faziam as suas Preces.
Mesmo recuando aos tempos em que o Evangelho foi escrito, é dever de um cidadão/cristão refletir sobre a atualidade da mensagem e “encaixá-la” no nosso quotidiano.
Entendo, com efeito, que o texto responde, perfeitamente, à forma como aceitamos a interiorização dos nossos atos, crescemos espiritualmente, vivemos e nos posicionamos, perante a vida.
Ainda que possa não ser admitido, por alguns, todos teremos um pouco de fariseus, publicanos, ou mesmo de vilões. Porém, muito mais importante que isso será, não só a nossa falta de capacidade introspetiva para o reconhecer, como também a disponibilidade para, ao espelho reflexivo, a nossa imagem espiritual interior, de consciência e valores, conseguir avaliar e ver.
Na verdade, muitas vezes, acabamos por ter dificuldade em reconhecer os nossos erros, o que somos, como somos e porque somos, sobretudo porque se apodera de nós o constrangimento de perguntar, “como?… porquê?…”, de modo a encontrar sustentabilidade consciente para a resposta. Todavia, num mundo materialista, suportado no mediatismo doentio, desprovido, muitas vezes, de valores, religiosos, morais e éticos, responsáveis e afirmativos, torna-se cada vez mais importante o exercício da reflexão e do questionamento.
É certo, que sentiremos, não raras as vezes, a ausência de referências positivas e sustentadamente credíveis, nomeadamente à Luz da Fé, o que nos leva, em determinados momentos, a adotar uma atitude cautelosa e pouco confiante sobre aquilo que esperamos dos outros e o que os outros esperam de nós, cidadãos comuns.
Porém, no que toca aos responsáveis por lideranças, sendo apontados como exemplos vivos, as suas posturas e ações devem refletir modelos positivos, que não contrariem as expetativas que neles, ainda, são depositadas.
Com efeito, não deixará de ser questionável, o que acontece no domínio das cumplicidades e dependências no âmbito das relações sociais e de liderança, quando os exemplos e as influências, espiritual e moralmente, são pouco recomendáveis e pouco dignificantes, no sentido da promoção da unidade na universalidade da Fé e dos mais elementares princípios do Evangelho. Posturas materialistas e vaidades pessoais sobrepõem-se, com a maior das facilidades, ao desenvolvimento de consciências críticas esclarecidas, capazes de discernir o que é certo e o que é errado, o que constrói ou o que destrói, potenciando a desmotivação individual e coletiva. Refiro-me, em especial, a comportamentos e atitudes farisaicas que proliferam, sorrateiramente, num silêncio frio e discreto, e se vivenciam e evidenciam, perante uma cumplicidade institucional pilatiana, favorecendo o perigo da irracionalidade e do egoísmo disfarçado de Amor.
Perante os riscos da validação institucional do papel social e religioso de muitos fariseus atuais, tantas vezes vilões disfarçados de eruditos, que se posicionam como se não tivessem nada a ver com os pecadores, ou como se fossem concebidos para serem uma “casta” superior, não devemos esquecer que Jesus, ao comer à mesa com os publicanos, a sua atitude foi algo de tão surpreendente para o piedoso povo israelita, quanto a mensagem subjacente foi explosiva para a mentalidade dos judeus.
É que, ser religioso, ou assumi-lo formalmente, não implica, necessariamente, ser detentor da verdade, mas implicará que exerça a sua influência e espiritualidade em conexão com a LUZ, da verdade e da Fé, promovendo, com clareza, a justiça, a paz, social e religiosa, com vista à construção de uma sociedade com valores e de valores, sintonizada em harmonia e alegria, contagiantes!…
Artigo escrito por Nuno Pires















