Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura – Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
As eleições autárquicas de 2025 marcaram uma viragem no mapa político português. Depois de mais de uma década de hegemonia socialista no poder local, o PSD emergiu como o grande vencedor, reforçando a sua presença e liderando os cinco maiores municípios.
O PSD passou de 114 para 136 câmaras municipais, conquistando 24 autarquias ao PS, 9 a independentes e 2 à CDU. Perdeu, contudo, 9 para o PS, 2 para independentes e 2 para o Chega.
O PS, por sua vez, sofreu uma quebra relevante, descendo de 148 para 127 câmaras. Além das 24 perdidas para o PSD, perdeu também 9 para independentes, 4 para a CDU, 1 para o Chega e 1 para o Nós Cidadãos. Recuperou, ainda assim, 9 câmaras ao PSD (algumas capitais de distrito), 7 à CDU e 2 a independentes.
A CDU, força tradicionalmente enraizada no Alentejo e Margem Sul, teve o seu auge autárquico em 1982 (considerando as anteriores coligações lideradas pelo PCP), com 55 câmaras municipais, mas desde então tem vindo a perder influência, conquistando em 2025 apenas 12.
O CDS, que chegou a liderar 36 autarquias em 1976, sofreu uma erosão gradual, vencendo apenas um município em 2005 e 2009. No entanto, nas últimas quatro eleições recuperou ligeiramente e em 2025 venceu 6 autarquias, tantas como em 2021 e 2017.
Tanto o Livre como o JPP conservaram as suas únicas autarquias. A novidade vem do surgimento de novas forças no poder local: o Chega passa a liderar três câmaras e o Nós Cidadãos, duas.
Nos últimos 20 anos assistiu-se à ascensão das candidaturas independentes, que passaram de uma presença residual no início dos anos 2000 para 20 autarquias em 2025 – um sinal de personalização crescente da política local e de menor peso partidário.

Antes destas eleições existiam 24 câmaras municipais que ainda não tinham mudado de cor partidária desde 1976. Nas autárquicas deste ano caíram 7 destes bastiões.
O resultado de 2025 traduz uma reconfiguração do poder local: o eleitorado autárquico parece ter procurado alternância e renovação, mas separando a análise do poder local do poder nacional – conclusão evidente ao comparar os resultados do Chega nas duas eleições.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
14 de outubro de 2025