Artigo escrito por Sau Falcão – estudante na Escola Superior de Administração, Comunicação e Turismo

O Natal, pra mim, nunca teve cheiro de peru assado ou aquele glamour do chester dourado que parece sair direto de uma propaganda. O meu Natal tinha cheiro de bacalhau. Não um, mas mil e um tipos de receitas, cada uma mais criativa que a outra, todas ecoavam a herança portuguesa da minha família. Enquanto as casas dos vizinhos se enchiam de temperos que nem eu sabia o nome, na nossa, a certeza era uma só: vai ter bacalhau. E rabanada. Sempre rabanada.

Desde criança, essa tradição era um marco. Não era a fartura de pratos diferentes que impressionava, mas o quanto o simples repetia a sua grandiosidade. Eram sabores que eu reconhecia, mas nunca enjoava. Porque no fundo, o Natal na minha casa não era sobre inventar modas. Era sobre reconhecer o que éramos e onde pertencíamos. Tinha algo reconfortante nessa constância.

Enquanto esperávamos a tão famosa meia-noite para atacar a ceia, a mesa já estava lá, quase a afundar com tanta comida e bebida. As frutas eram um espetáculo à parte. Todo Natal tinha aquela fartura absurda de frutas, até as que ninguém tinha o costume de comer no dia a dia. Não sei se era por simbolismo ou porque alguém sempre achava que precisávamos delas pra equilibrar o tanto que comíamos. Sei que, pra mim, isso virou memória de infância. O Natal era a única época do ano em que todas as frutas do mercado pareciam estar reunidas na nossa sala.

Mas a estrela do show, a verdadeira protagonista, era a rabanada. Não era uma rabanada qualquer, mas sim a rabanada, feita pela minha bisavó. Houve um Natal, em especial, que ficou gravado em mim como uma tatuagem emocional. A minha família foi para o Rio de Janeiro, e quando chegamos, lá estava ela, à espera de nós com um tabuleiro que parecia infinito. Era uma receita cheia de açúcar, leite condensado e afeto que foi quase um combo para diabetes instantâneo. E, sinceramente, eu comeria tudo de novo sem pensar duas vezes. Porque ali, naquele tabuleiro, não era só comida: era amor, era carinho, era o jeito de ela dizer “vocês são importantes”.

Na minha infância, nunca houve um Natal silencioso ou solitário. A casa ficava cheia, os risos ecoavam, as bebidas eram generosas, e as histórias — ah, as histórias — eram sempre as mesmas, mas com novas versões a cada ano. O Natal era um evento, um lembrete de que a família, mesmo com as suas loucuras e diferenças, é onde sempre vamos pertencer.

E se eu pudesse voltar no tempo, só pra sentir aquele cheiro de bacalhau no ar e roubar mais uma rabanada escondida antes da meia-noite, eu voltaria sem hesitar. Porque, no final das contas, a magia do Natal está nos detalhes — naquilo que talvez só a sua família entenda, mas que faz todo sentido do mundo pra ti.

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