Quem viveu de forma participada e intensa as diversas tarefas agrícolas e mantém com o meio rural uma ligação “umbilical”, nunca esquece o passado, mantendo este sempre atual. Com efeito, também eu me incluo nesta forma de ser, pensar e estar, não obstante acontecer no meio citadino a sustentabilidade do meu laborar.
Tendo crescido num meio familiar em que agricultura era o sustento da casa, acabei por participar nas múltiplas atividades agrícolas inerentes. Naturalmente que guardo boas e menos boas recordações de umas ou de outras. Gosto de recordar aquelas que mais me marcaram e que melhores recordações da infância e da juventude me deixaram. Entre elas, estão as vindimas, o pisar mosto/bagaço no lagar, ou na lagareta, como também lhe chamavam na minha aldeia, o lavar das pipas, o tirar do vinho, o fazer a aguardente. Rituais em que a alegria se fazia sentir e a cooperação/ajuda entre famílias e pessoas acontecia regularmente de forma emergente.

Nesta perspetiva o fazer da aguardente deixou em mim muitas recordações, que guardo religiosamente na minha mente. Se bem que na minha meninice ainda havia o aguardenteiro, ou seja o homem que andava, de casa em casa, com os potes, mesmo que ele não fosse o proprietário, a fazer a aguardente, a verdade é que, à medida que o tempo foi passando, a aquisição de potes foi proliferando e uma boa parte das casas rurais já os tinha para uso, nem sempre exclusivo, é certo. Para além do retirar o bagaço do lagar/lagareta, o ritual da aguardente começava com a construção da fornalha, onde iria ser colocado o pote. Sempre um lugar abrigado e funcional, onde as tarefas de carregar e descarregar se tornassem mais fáceis. Carregar o pote exigia algum cuidado, sobretudo com a colocação da palha/colmo no fundo, antes de ser introduzido o bagaço, para que este não se pegasse. Mesmo assim, muitas vezes acontecia. O que se constituía uma grande chatice e uma duplicada trabalheira!…

A grande fogueira inicial para fazer ferver o pote era fundamental. Quando a grande rolha de cortiça saltava da boca do pote, estavam reunidas as condições para ser colocada a cabeça e ser iniciado o processo de destilação. Mas, para além da água fria e do betumar a união do pote com a cabeça, com massa de farinha, para que vapor não saísse por ali, o que não podia faltar era a palha/espiga de centeio na extremidade do tubo por onde iria sair a cristalina e quente aguardente. E quando os primeiros pingos surgiam, a prova era para toda a gente presente. E, habitualmente, todos diziam, “que boa está”. A partir daí, o importante era manter o chama constante, evitando oscilações na fervura e que o pote não se “bufasse”, a qualquer instante. Esta manter-se-ia até que a qualidade da aguardente fosse como lavrador queria. Claro que a prova acontecia e a qualidade era também atestada pela labareda que no lume fazia.
Este era o período em que as pessoas mais juntavam à volta do pote e provavam, assavam e petiscavam. O convívio era salutarmente evidente, bem como a partilha gastronómica frequente. O pão com nozes, os ovos e as batatas assadas no borralho, os marmelos, as peras, o frango… Enfim, comer e beber como o ambiente impunha para o pessoal entreter. Nos bancos, tantas vezes improvisados, os amigos sentados ficavam, até parecendo que a “adorar” o pote estavam. E, no final, a tirar/descarregar o pote ajudavam. Na verdade, tratando-se da última tarefa ligada ao tempo quente, tornava-se divertida, potenciando a interatividade positiva entre a gente

Artigo escrito por Nuno Pires

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