Artigo de opinião de João Marrana – Assessor Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Vice-Presidente do Conselho de Administração da Fundação do Desporto 

Na minha primeira colaboração neste espaço não me apresentei e peço desculpa por isso.

O meu nome é João Marrana. Sou natural de Torre de Moncorvo e TRANSMONTANO, com muito orgulho!

Toda a minha vida tenho tido este sentimento enraizado de pertença e não é a “moda do Douro” que fará em momento algum, deixar de me apresentar desta forma.

Sou e serei sempre de Trás-os-Montes. São as minhas raízes, os meus valores e a minha identidade … e a identidade cultural é importante para a definição daquilo que somos.

A desertificação e envelhecimento do interior, aliada à situação pandémica que vivemos, aumenta, a cada dia, a vulnerabilidade da população e a necessidade de apoio, principalmente no que diz respeito às pessoas mais debilitadas, mais isoladas e mais idosas.

Moncorvo há muito que perdeu o norte. A deriva imobiliária e a forma desregulada como cresceu, fez-lhe perder o rumo, destruiu o sentido comunitário da vila, criou bairros e mais bairros dispersos, sem ter em conta a(s) necessária(s) centralidade(s) organizacional(ais) e vivenciais que se impõe num aglomerado populacional como este.

Atualmente, Moncorvo parece uma vila fantasma. Sem vida, sem ritmo próprio, sem atitude. Os edifícios devolutos no Centro da Vila multiplicam-se, muitos encontram-se em ruína evidente.

Foi com grande satisfação que recebi a notícia de que Moncorvo integra o grupo restrito de municípios que viram aprovada a sua candidatura ao programa 1º Direito – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação.

Alicerçado num fundo que possibilitará um investimento estimado em mais de sete milhões de euros (7.258.353,00€), Moncorvo passa assim a ter a sua estratégia Local de Habitação, condição para se poder candidatar a este programa.

Promover o acesso a habitação condigna aos munícipes que não dispõem de condições para tal, é o propósito deste investimento.

É chegado o momento em que devemos pensar numa política global de intervenção, recuperar a vida e a comunidade e este programa pode ser a “Pedra Angular” do renascimento do Moncorvo do futuro.

Reabilitar edifícios localizados na vila e dar-lhes múltiplas funcionalidades, trará um benefício generalizado para o conjunto da comunidade.

Como exemplo, podemos pensar num edifício que possa albergar simultaneamente instituições sociais, comércio, espaço jovem, centros ocupacionais interrelacionais, salas de estudo, etc. e, nos pisos superiores habitação.

Para além da evidente vantagem para outras áreas da atividade municipal, as pessoas que carecem deste tipo de intervenção irão manter a sua residência no tecido social que conhecem, na comunidade que os reconhece e aceita. Irão manter a sua identidade cultural e sentimento de pertença.

A deslocalização de famílias tenham elas a origem ou a etnia que tiverem, acarreta sempre desenraizamento e uma maior dificuldade de criar relação, tornando difícil o processo de integração numa nova comunidade.

Tudo isto pode ser causador de uma enorme instabilidade, para quem é imposto um novo local para viver e para quem tem que receber…

Adicionalmente, estarão as aldeias, maioritariamente isoladas e sem serviços de suporte, preparadas para receber estas novas dinâmicas?

Este investimento é a oportunidade que não pode ser desperdiçada e com potencial para condicionar o futuro da nossa terra.

Esperamos que assim, possamos recuperar o património imobiliário degradado, criar condições de habitação condigna para todos, empregar os jovens do concelho e desafiar as nossas empresas a desenvolver este projeto. De Moncorvo, com os Moncorvenses, para o futuro.

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