Artigo de opinião escrito por Katy Rodrigues – Consultora em Marketing, Turismo e Sistemas de Informação

Em todas as espécies existem caraterísticas próprias alusivas aos genes. A galinha dos ovos azuis não é uma exceção. Oriunda do Chile, a raça “Araucana”  (também conhecida como híbrida ou derivada) desperta um certo interesse aos mais curiosos ou a quem a desconhece. Trata-se de um verdadeiro caso de marketing territorial, cujas reflexões mais profundas, entre outras analogias, são tentadoras de projetar. Mas desengane-se quem achar este feito singular. Esta interessante constatação, também se afigura em França, onde as raças  “Marans” e  “Bleue de France” possuem igualmente a particularidade de pigmentar com ocianina, a casca dos ovos. O que aliás lhes confere a estonteante e diligente tonalidade azulada.

Ao extrapolar pensamentos, permito-me (com sentido crítico e algum humor) questionar-me sobre qual a cor a associar ao território Transmontano e à sua “casca”, como quem diz: a sua envolvência? Arco-íris, meus caros! Tendo a perfeita consciência que arco-íris, não é tecnicamente uma cor… Mas ultimamente, não andamos todos cansados das diplomacias dos “tecnicamente”?

Apesar da mancha cinzenta da Interioridade, a dualidade preto ou branco não se aplica ao “reino maravilhoso”. Aliás, os mais audazes e empreendedores afincadamente adotam a postura camaleónica, com grandes doses de coragem e resiliência! Ao contrário dos ovos azuis, cuja cor da casca não afeta o sabor ou a qualidade nutricional do ovo, Trás-os-Montes é um destino detentor de uma paisagem exuberante, marcada por vales e recortes, em que as quatro cores das estações fazem um verdadeiro looping ao “pantone” e permite, portanto, oferecer quatro produtos turísticos diferenciadores ao longo do ano. E é nas cores que reside a essência Transmontana! Embora haja demasiados metaforicamente cegos localmente, mas muitos mais há para lá do Marão.

Nos Invernos privilegiados com neve, o branco imaculado e impecavelmente gélido preenche os corações das gentes, que se ocupam com os afazeres dos enchidos e as festas em honra do solstício da época. Vêem-se o fumo de chaminés e sente-se, na atmosfera, a nostalgia do frio que também conforta a alma. Mas não podemos generalizar gentes, rotinas e percepções, num território detentor de polos tecnológicos, e que, mundialmente, dá cartas em várias áreas da investigação científica.

No Outono, assistimos a uma miscelânea de cores que produzem paisagens idílicas e verdadeiros bosques encantados. O caviar da região, também conhecido como a castanha, inunda os tempos e as iguarias de quem saboreia genuinamente o sabor da terra. Cruzam-se atributos de uma região, parte reconhecida pela Unesco, parte considerada Smart City, outrora Sefardita e Marrana!

Mas é na Primavera que o clima convida a conhecer geossítios e o “dark sky”. Entre rotas, trilhos e amendoeiras em flor, há muito para vislumbrar. E o potencial turístico é enorme, sobretudo para quem procura lugares que produzem memórias e despertem os sentidos.

No Verão, são festas e mais festas, que combinam com um turismo de saudade e a particularidade dos ânimos dos dias atuais. O tal “inferno” que precede ao inverno… Uma feliz escolha para quem elege os Lagos do Sabor como local de visita ou ousa experienciar a tranquilidade e uma gastronomia divina.

Porque Trás-os-Montes, meus caros, beneficia de uma posição geográfica privilegiada, transfronteiriça e bem lá no topo do mapa. Apela com certeza aos contrastes, mas deve ser vista com uma porta de entrada para a Europa e não fim da linha! Terra Fria, Terra Quente, genuína e moderna, um território que merece mais destaque que “ocianina” em cascas. E só há uma forma de evidenciar esta riqueza: investir, persistir e divulgar até que as vozes façam eco, porque o resto fala por si.

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